Beijos, antes e depois

 

 

Robert Doisneau é fonte de grande inspiração nas minhas imagens. Apesar de adorar a tendência atual de se fazer fotos desfocadas, manchadas, desbotadas, estilos Lomo, Holga, e tantas outras ondas que “pegamos”; não posso negar que meu olhar é mais seduzido pela veia mais tradicional da fotografia, o PB de Henri Cartier Bresson, Eugène Atget, influenciadores também de Doisneau.

Nascido na cidade de Gentilly (em 14/4/1912), Robert Doisneau, desde o início da carreira, se mostrou apaixonado pelas ruas e ganhou fama por fotografar a vida social de Paris e dos arredores, sem distinção de classe social: uma visão da fragilidade humana e das contradições da vida. Uma das suas mais famosas fotos é o beijo nas agitadas ruas da metrópole. Já havia visto esta imagem diversas vezes em livros anteriormente, mas num determinado dia de verão, flanando pelas ruas de Paris, me deparei novamente com esta imagem exposta numa loja e ela me passou uma sensação tão deliciosa, que resolvi tentar reproduzi-la. Estava um dia lindo de céu azul e os casais apaixonados por todos os parques por onde passava pareciam caprichar só para mim.

 

 

 

 

Entre o Jardin de Luxembourg, Jardin des Tuilleries e a Place des Vosges, me senti o cupido do beijo. Nunca havia visto tanta gente se beijando assim. Ou simplesmente foi o toque daquela imagem no meu coração que me havia apurado o olhar…

Existem 2 frases de Doisneau de que gosto muito e que neste dia em especial flutuaram entre meus olhos e minha mente sem parar.

Uma é “Eu não fotografo a vida como ela é, mas a vida como eu gostaria que fosse ».  Gostaria tanto que o que vemos no mundo de hoje fosse mais amor transbordando no meio da rua do que brigas, guerras e assassinatos.. Seríamos todos tão mais felizes…

A outra frase,  “As maravilhas da vida diária são tão excitantes; nenhum diretor de filmes pode montar o que você encontra na rua », me excitava ainda mais a cada clic. É verdade. Senti na pele. Nenhuma cena de filme, por mais bem feita que seja, supera a beleza do gesto espontâneo no amor, esse é autêntico, expressão real de um sentimento.

 

 

 

 

Esse foi um dos dias mais poéticos da minha vida. E assim nasceu o meu ensaio preferido, « Beijos, antes e depois », totalmente inspirado e embebido em Doisneau.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ele, como Henry Cartier Bresson, fotografava poesia. Eu também. Acho que este é o nosso grande ponto de encontro.