Em dezembro de 1968, a ditadura decretou o Ato Institucional nº 5, o famoso AI-5, concentrando nas mãos do governo poderes quase absolutos por tempo indeterminado, permitindo que o “Governo Militar” pudesse dissolver a Câmara de Deputados e o Senado Federal, cassar mandatos parlamentares e os direitos políticos de qualquer cidadão, suspender o habeas corpus, decretar o estado de sítio e confiscar bens. O que inquietava de fato o governo era o crescimento das oposições à ditadura e, particularmente, a erosão de suas bases de sustentação política (Daniel Aarão Reis e Denise Rollemberg).

Muitos desaparecidos, num cenário precisamente retratado pelo cantor e compositor Gonzaguinha, na letra da canção “Achados e Perdidos”, que diz:

“Quem me dirá onde está aquele moço fulano de tal … achados, perdidos, morridos, saudades demais / mas eu pergunto e a resposta é que ninguém sabe, ninguém nunca viu / só sei que não sei quão sumido ele foi, sei é que ele sumiu / e quem souber algo acerca do seu paradeiro, beco das liberdades / estreita, esquecida, uma pequena marginal, dessa imensa avenida Brasil”.

Um tempo que o Brasil ainda não superou plenamente. A comissão da verdade busca os anais da ditadura, segmentos sociais cobram punições, uma geração ainda busca os seus entes queridos, desaparecidos nas teias dos órgãos de repressão.

Sem dúvida os artistas foram foco de repressão, pelo papel que desempenham na sociedade, pela força das letras das canções e até mesmo pela força das melodias (Edu Lobo teve uma música instrumental censurada, pasmem!). Muitos exilados, alguns torturados e por aí segue um rosário de situações menos dignas do nosso país.

Em homenagem a estes artistas, fizemos um show chamado “Memória de um tempo que não queremos mais”, onde a tônica central era: cantar as canções proibidas, falar sobre o que aconteceu para os mais jovens e tentar fazer uma nova celebração onde a liberdade, em cima do que já foi probido, se fortaleça.

As imagens abaixo refletem esse evento, que aconteceu no hotel Barrudada e teve como artífice musical o grupo Canto de Várzea (João Otaviano, Samuel Lima, Eduardo Serique, Everaldo Martins e Otácilio Amaral). Banda formada por Júnior Castro (sopros), Guilherme Taré (percussão), Rui Villas-boas (baixo) e Celson Lima (violão 7 cordas). Dentre as muitas canções proibidas, citamos as seguintes: Cálice, Apesar de Você, Angélica (Chico Buarque), O bêbado e o Equilibrista (João Bosco / Aldir Blanc), Disparada (Geraldo Vandré), Fado Tropical (Chico e Rui Guerra) e, é claro, o “hino” contra a repressão composto por Geraldo Vandré (torturado e exilado), chamado “Pra não dizer que não falei das flores”.

A memória de um tempo que não queremos mais deve ser mantida, para que tenhamos força para impedir que este tempo volte!

 Da esquerda para direita: Samuca, João, Nato, Júnior, Everaldo, Celson e Eduardo

Da esquerda para a direita: Samuca, Otacílio, Eduardo, João, Júnior, Everaldo e Celson

Da esquerda para a direita: Júnior, Rui, Celson, Nílson e Eduardo